quinta-feira, 27 de maio de 2010
Baal Babilônia
Eu te disse: - Primeiramente, honrar Deus acima de todas as coisas
E você me disse: - sim
E eu te perguntei o que significava honrar Deus acima de todas as coisas.
E você me disse: - Significa que é preciso sempre honrar Deus acima de tudo.
E eu te disse: - Ah! Depois eu te disse: -Em segundo lugar, não blasfemar
E você me disse: - sim
E eu te perguntei o que significava não blasfemar.
E você me disse: - Significa que não se deve nunca blasfemar.
E eu te disse: - Ah! E depois eu te disse: Em terceiro lugar, guardar os domingos e festas de guarda.
E você me disse: - sim
E eu te perguntei o que significava guardar os domingos e dias de guarda.
E você me disse: - significa que deve-se sempre guardar os domingos e dias de guarda
Um, dois, três. Sim.
E eu te disse: - Em quarto lugar, honrar seu pai e sua mãe
E você me disse: - sim
E eu te perguntei o que significava honrar seu pai e sua mãe.
E você me disse: - significa que deve-se sempre honrar seu pai e sua mãe.
E eu te disse: - Ah! E depois te disse: - Em quinto lugar, não matar.
E você me disse: - Sim.
E eu te perguntei o que significava não matar.
E você me disse: - Significa que não se deve nunca matar.
E eu te disse: - Ah! E depois eu te disse: - Em sexto lugar, não fornicar.
E você me disse: - Sim.
E eu te perguntei o que signifcava não fornicar.
E você me disse: - Significa que não se deve jamais fornicar.
E eu te disse: - Ah!
Quatro, cinco, seis. Sim.
E eu te disse: - Como?
E você me disse: - O quê?
E eu te disse: - Como isso, não fornicar?
E você me disse: - Não fornicando.
E depois você me disse: - Como diz o catecismo,
E eu te disse: - Ah! E depois eu te disse: - Mas quando?
E você me disse: - Bem, nunca.
E eu te disse: - Mas onde?
E você me disse: - Bem, em todos os lugares.
E eu te disse: - Ah! E depois eu te disse: - Ah! E depois eu te disse: - é uma dessas historias de grandes pessoas?
E você me disse: - Sim.
Trecho de Baal Babilônia de Fernando Arrabal. Tradução: Marcelle Pamponet
terça-feira, 25 de maio de 2010
Arrabal e a Torre de Babel
En la foto actores y directores del Brasil rodean a Arrabal el dia de sus 77 años en 2009. Marcelle Pamponet (con sombrero) està a la extrema derecha de la foto. Esta joven y talentusosa directora serà la "metteuse en scène" de la obra
En 1975 el propio Fernando Arrabal dirigio a la inolvidable Ruth Escobar en el estreno en Sao Paulo de La torre.
domingo, 23 de maio de 2010
Construindo a Torre...
sexta-feira, 21 de maio de 2010
De Beckett
quinta-feira, 20 de maio de 2010
Torre de Babel
Arrabal surgiu em minha vida quando ainda não sabia o que era Teatro do Absurdo, Movimento Pânico ou Patafísica. E foi assim, livre desses pré-conceitos que adentrei no universo arrabalesco. Em Fando e Lis busquei o caminho de Tar, em Oração prometi ser boa e pura como os anjos, mas foi Torre de Babel que me fez jurar: melhor morrer de pé a viver ajoelhada!
A Torre de Babel se apresentou para mim quase ilegível, em folhas datilografadas de tinta esmaecida, pedia para ser decifrada, decifra-me ou devoro-te, disse-me. Fiz mais, eu mesma a devorei. Apaixonei-me por Latídia, essa duquesa cega e pura, perseguindo uma utopia tão inatingível que só é possível concretizá-la em uma outra realidade, essa realidade arrabalesca – em que o sagrado e profano se misturam, em que todos são movidos por intenções puras e infantis. Diverti-me com os mendigos que, embora, sujos, bêbados e aleijados defendiam a honra com a nobreza de um conde.
Em 2008, quando conheci esse ilustre homenzinho, de pouca altura e muita genialidade: Fernando Arrabal que, com o altruísmo da nossa protagonista me recebeu em sua casa, ofereceu-me vinho, bombons, e um pouco de seu conhecimento, tive a certeza de que era a hora de encenar A Torre de Babel. Mas a encenação apenas não me satisfazia mais, queria poder compartilhar com a minha terra o pouco que vi e vivi ao lado desse grande mestre, e ele, com um sorriso nos lábios, aceitou, com a condição de em Terra Brasilis comemorar seu aniversário. Começava então a construção da Torre de Arrabal.
Diretora de Torre de Babel
Pedra da Loucura
"Na escuridão vejo apenas os olhos da Esfinge de Tanis. Estão fixos e me olham. Eu os olho também.
De repente, em um de seus olhos, vejo escrita a palavra MEDO, e no outro ESPERANÇA.
Mas, assim que as Esfinge fecha os olhos, vejo apenas a escuridão."
terça-feira, 18 de maio de 2010
Uma Festa Suntuosa
Fernando Arrabal definiu claramente suas intenções e sua concepção de teatro. Ele não escreve peças com teses; ele não passa uma mensagem: “Eu não tenho nenhuma teoria sobre o teatro.” Escrever é, para ele, uma aventura sempre misteriosa, “não como o fruto do saber e da experiência”. Por outro lado, em resposta àqueles que vêem nele um intelectual desejoso de mistificar e provocar o público, ele declara: “ Eu não faço mistificações, eu não faço provocação... Eu não inventei nada, eu não sou um marciano. O que eu escrevo, já foi escrito; eu proponho variantes.”
Para ele o teatro é uma festa suntuosa, uma cerimônia ritual, que mistura os elementos os mais opostos: “A tragédia e o guignol, a poesia e a vulgaridade, a comédia e o melodrama, o amor e o erotismo, o happening e a teoria dos conjuntos, o mau-gosto e o refinamento estético, o sacrilégio e o sagrado, a morte e a exaltação da vida, o sórdido e o sublime se inserem naturalmente nessa festa, nessa cerimônia pânica.”
O teatro de Arrabal exprime “em todos os desvios de sua caminhada, o caos, a confusão da vida” Isso não significa que a estrutura de suas pecas esteja entregue ao acaso, pelo contrário. Grande enxadrista, Arrabal é partidário de uma construção bem elaborada: “O espetáculo deve ser regido por uma idéia teatral rigorosa. Atualmente, para nossa sorte, a matemática moderna nos permite, com maestria, fazer da peça mais sutil a mais complexa. Portanto, sob uma aparente desordem, é indispensável que a encenação seja um modelo de precisão. Quanto mais o espetáculo se revela exaltante (até a conivência ou provocação) e fascinante (até o ultraje ou o sublime), mais a peça e a encenação exigem minúcia.” E Arrabal conclui: “O teatro que elaboramos agora, nem moderno, nem de vanguarda, nem novo, nem absurdo, aspira somente ser infinitamente livre e melhor. O teatro em todo seu esplendor é o espelho mais rico de imagens sobre o qual pode se refletir a arte de hoje; ele é também prolongação e sublimação de todas as artes.”
Paul Surer
Esse artigo foi extraído da obra “Cinqüenta anos de teatro” que Paul Surer apresentou à Sociedade de Edição de Ensino Superior, 5, place de La Sorbonne, Paris.
segunda-feira, 17 de maio de 2010
sexta-feira, 14 de maio de 2010
Viva La Muerte
O filme de estréia de Fernando Arrabal, "Viva la Muerte" é considerado por muitos críticos como o auge do cinema de vanguarda espanhol. Repleto de imagens surreais de violência, sexualidade e comentários políticos irônicos, o filme coloca Arrabal como um dos mais proeminentes surrealistas de língua espanhola, ao lado de Luís Buñuel e Alejandro Jodorowsky.
quinta-feira, 13 de maio de 2010
Pedra da Loucura
"Veio o padre ver minha mãe e lhe disse que eu estava louco.
Então, minha mãe me amarrou à cadeira. O padre, com um bisturi, fez um buraco na minha nuca e extraiu a pedra da loucura.
Depois, eles me levaram amarrado e amordaçado à nave dos loucos."Fernando Arrabal
quarta-feira, 12 de maio de 2010
Teatro de A à Z, por Paul-Louis Mignon
Fernando Arrabal, nascido em Mellila ( antigo Marrocos espanhol) 11 de agosto de 1932.
Ele tinha então 4 anos quando a guerra civil eclode no seu país. Ele não vai jamais rever seu pai, preso pelos franquistas, e sua mãe fará de tudo para apagar a presença e a lembrança desse marido cujas convicções não compartilha.
- Dos quatro aos oito anos, durante a guerra, disse ele, eu conheci intimamente o ódio, a ferocidade. O choque que senti jamais deixou de agir sobre mim; desde então nunca os acontecimentos conseguiram me impressionar da mesma forma.
Com a prisão de seu pai, sua mãe parte para Ciudad Rodrigo e, 3 anos depois, Madrid. É na escola, durantes as festas de fim de ano, que ele descobre o prazer do espetáculo.
- Eu tive então a idéia de construir um teatro em miniatura com personagens recortados de fotos de jornais as quais eu colava em pedaços de madeira. Minha irmã e eu os manipulávamos dividindo os papeis. Eu comecei a compor um repertório para divertir minha família.
Entre as numerosas peças que escreveu, a Guerra da Coréia inspirou “Piquenique no Front”. Ele escreverá ainda “O Triciclo”. Tinha apenas 17 anos.
- Em suma, eu comecei a fazer teatro antes mesmo de ter visto uma apresentação de uma peça, no sentido profissional do termo.
Depois dos estudos em Tolosa – preparatórios para a industria do papel – ele se volta para o direito, ocupando, em Madrid, um cargo de escritório. Ele vai muito ao teatro. Assiste Calderon, Benavente, alguns esquetes..
- Em seguida, devido a uma representação única para os estudantes, assisti “Esperando Godot”. Foi uma revelação, a revelação. De repente o teatro me pareceu vivo. E eu senti que minhas peças poderiam ser interpretadas. Isso me encorajou a me dedicar cada vez mais.
Quando, em 1954, descobre que o Berliner Ensemble e Brecht saem de Berlim e vão a Paris, ele sente necessidade de assistir o evento, indo lá de carona.
- Brecht era um mito fantástico. Eu não compreendi uma palavra sequer, mas diante da encenação de “Mãe Coragem” – eu me lembro particularmente do momento em que Helène Weigel depenava um frango – eu fui ao êxtase.
Um de seus amigos inscreve “O Triciclo” em um concurso. A peça ganha. A Embaixada da França oferece a Arrabal uma bolsa para estudar teatro em Paris. Em 1955 descobre que está com tuberculose.
- Um salário de empregado na Espanha me dava o mínimo para comer. Os dois anos passados no sanatório de Bouffémont, no entanto, não foram perdidos. Eu não fazia outra coisa além de ler e escrever.
“O Triciclo” é criado na Espanha em 1957 ( a peça é encenada uma única vez).
- Houve uma verdadeira batalha entre os “prós” e os “contras”. Os espectadores brigavam entre si.
Em Paris, sua mulher inscreve “O Triciclo” à Comissão de apoio à primeira peça. Jean Mercure toma conhecimento do manuscrito, o qualifica de raro e o recomenda a Jean-Marie Serreau. Este pede para ler outras peças.
- Com a intervenção de Genevieve Serreau, Rene Julliard decidiu as editar e me enviar uma mensalidade que, durante muito tempo, me permitiu viver.
Jean-Marie Serreau encena “Piquenique no Front” (Lutece, 1959)
[...]
Produziu muito? Ele explica:
- De fato, essa é toda minha atividade com os Cadernos de Teatro que dirijo. Cada dia, quando escrevo (escrevo, acrescenta, em francês ruim e corrijo com minha esposa) é o momento em que me divirto. Cada peça corresponde a um estado de espírito, as minhas preocupações, quando a escrevo. É por isso que meu teatro se organiza em torno de elementos que me são essenciais, Arrabal claro, a mãe, a realidade, os sonhos, o absurdo. “O jardim das delicias” está relacionado a descoberta de minha irmã durante minha prisão em Madrid, em 1967. Quando éramos crianças nos víamos pouco. Em seguida, nos perdemos de vista. “O jardim das delicias” é sua vida, é a minha tal como a percebia na época.
“Eles colocaram algemas nas flores” nasceu do choque que tive quando soube que o homem tinha pisado na lua. Procurei saber o que meus companheiros de prisão pensavam.
“O Coroamento” data do período em que freqüentava a casa de André Breton. Parte de uma anedota pessoal, porém enriquecida pelo universo de Breton, pelo surrealismo.
Me falam muito de Sade. Eu sou um estranho à obra de Sade (a sua credibilidade), porem reconheço sua genialidade. É ao universo de Shakespeare que sou mais sensível. Eu vivo os eventos contemporâneos. Em maio de 68 eu fui para minha casa escrever uma peça sobre as barricadas, “A Aurora vermelha e preta”. Não pensando em política. Eu não sou um homem político. Eu não tenho lição a passar. Eu sou um homenzinho tão livre quanto é possível.
Os sonhos tem tanta influência quanto a realidade. Um pesadelo que tive na manhã que operei o pulmão se encontra exatamente no “Labirinto”. Geralmente, creio que é necessário utilizar todos os nossos fantasmas, não se limitar ao envelope exterior de nossa vida para ser verdadeiro. É isso que procuro, não provocar, nem chocar.
MIGNON, Paul-Louis. l'Avant - Scène, n. 443. 1970, Paris, França.
Tradução: Marcelle Pamponet
terça-feira, 11 de maio de 2010
Um pouco de poesia...
Janela do mar para a tempestade e suas ondas
Sol da amêndoa para o dardo e a suas trombetas
Lua do crepúsculo para o que é lascivo e seus caprichos
Carne do impudico para o desejo e seus tumultos
Concubina do pubis para o macho e seus males
Pimenteira da fusão para a alcova e suas tigresas
Harmonia da verticalidade para o carnívoro e seus boquetes
Selo de ejaculação para o criador e suas alucinações
Jóia do orgasmo para flauta e seus dedos
Pleno de existência para a intimidade e seus ritos
Oficina do amor para o martírio e suas brasas
Coração do espasmo para a ejaculação e a lambida
Flor do furor para o sádico e suas mordidas
Moinho de delícias para a pistola e seus tiros
Margarida de Eros para o libidinoso e seus raios
Nicho de enigma para a penetração e os seus raios
Ostra de adoração para o tronco e seus carnavais
Botão de ligar o cacete e seus caprichos
Rosa de beijos para o adorador e seus puros
Grelo de loucura para o bulício e suas dileções
Concha de sedução para o precioso e seus hímens
Escudo de delírio para o que é ruiseñor e seus caprichos.
Topete de ardor para a fantasia e seus nós
Mandolina de calor para a flecha e suas intrigas
Morango de dilúvio para o delirium e o seus tremens
Ninho de culto para o marquês e suas ataduras
Gaveta de ereção para o clavicórdio e suas paixões
Tufo de sortilégio para a adaga e os seus toques.
Tesouro de febre para o falo e suas queimaduras
Cetro da chama para a cerimônia e seus frenesis.
Arrabal, Monte Carmelo 2007 (tradução de Wilson Coêlho, Brasil) em http://arrabalclitoris.blogspot.com/
sexta-feira, 7 de maio de 2010
Irei como um Cavalo Louco
Segundo filme de Arrabal: Irei como um cavalo louco (J'irai comme un cheval fou) abandona a alegoria política presente em "Viva la Muerte" em prol de uma descoberta dramática da fé e religião organizada.
Trata-se da história de Aden, interpretado pelo americano George Shannon, que foge da sociedade após a morte de sua mãe controladora. No deserto, descobre a beleza da natureza e, sob a tutela de um eremita, Marvek, torna-se um homem normal. Aden apaixona-se loucamente por Marvel, que pode se comunicar com animais, as nuvens e o sol. Após retornar à civilização, agora com Marvel, Aden torna-se consciente da natureza hipócrita e terrível da sociedade humana.
"Irei com como um cavalo louco" é considerado uma obra prima do cinema surrealista, o filme mais delirante e diabólico de Arrabal, um retrato chocante tanto da beleza do mundo quanto de seu tormento interno.
fonte: www.arrabal.org
Arrabal anuncia sua vinda a Salvador
Autocrítica de Torre de Babel
Minha terra pousou frente ao espelho côncavo e pintei seu retrato como se tratasse de um microcosmo. Não há soluções, não há problemas. O primeiro plano o domina uma alegoria (vigas, cupins, águias) que impõe um movimento de caráter convulsivo, o qual me provocou uma sensação de vertigem.
Os que viram a obra ou a leram parecem ter chegado a um acordo tácito para definir a paisagem (a atmosfera) como impenetrável, enigmática ou inclusive como um hieróglifo apavorante, na verdade descrevi tão somente a realidade geográfica de minha pátria sem esquecer, naturalmente, as ameaças escondidas.
É possível que me represente, que me retrate sem mostrar a face, que fascinado pelo Quixote solitário e a mulher me deixe levar por, como disse Dante, l’amore che muove il sole et Valtre stelle (sem esquecer meu suspeito entusiasmo pelas matemáticas hipermodernas)
A terra que toco e que apalpo ou que sinto saudades é o maestro mais genial, e quando trabalho sobre ela (sobre as quimeras que surgem de uma paisagem tão íntima como quase esquecida) medito sobre a mais minuciosa de minhas secretas estruturas espirituais. Reflito sobre o essencial, então.
Fernando Arrabal
28 de maio de 1957