Ainda pouco ou mal conhecido na França, pelo menos do grande público, Fernando Arrabal impôs sua personalidade em vários países da Europa e América Latina. Seu teatro dá lugar a discussões calorosas: admirado por alguns, vaiado por outros; ele encanta ou faz rir. Autor insólito por excelência, Arrabal é um representante típico dos últimos desenvolvimentos do nosso teatro que vão até o limite extremo do que podemos ousar. Comparados a ele, Beckett e Ionesco são figuras de dramaturgos à moda antiga.[1]
O teatro de Arrabal não se contenta em ferir as concepções tradicionais de moral, religião ou estética; ele revira avidamente a alma humana em todos os seus esconderijos, espreita e expõe com audácia nossas necessidades mais privadas, nossos desejos mais insanos, nossas paixões mais inconfessáveis; pertence a um poeta tão revelador quanto imprevisível; o dialogo, enfim, abrupto ou alegremente feroz, deliberadamente extravagante, estarrecedor, surpreendente e, por vezes, cativante.
Contudo, as peças de Arrabal correm o risco de exaltar ou ainda repugnar a maioria dos espectadores devido ao gosto mórbido que tem o autor pela ofensa, blasfêmia e obscenidade, pela repetição de obsessões ou delírios erótico-sado-masoquistas. Já a paixão de Arrabal pela filosofia, “essa maravilha humana, esse fruto divino da civilização”, como diz o Imperador da Assíria, nos faz rir uma vez que percebe-se que a maioria de suas divagações herméticas, traduzidas em uma linguagem coerente, nos leva a lugares comuns bastante repetidos.
[1] Willian Saroyan em 1959 no Cahier des Saisons: "Se Beckett pode fazer o que fez, e Ionesco, deve-se crer que haverá outros que poderão fazer ainda mais.”
Paul Surer
Esse artigo foi extraído da obra “Cinqüenta anos de teatro” que Paul Surer apresentou à Sociedade de Edição de Ensino Superior, 5, place de La Sorbonne, Paris.
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