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sexta-feira, 7 de maio de 2010

Autocrítica de Torre de Babel

Minha terra pousou frente ao espelho côncavo e pintei seu retrato como se tratasse de um microcosmo. Não há soluções, não há problemas. O primeiro plano o domina uma alegoria (vigas, cupins, águias) que impõe um movimento de caráter convulsivo, o qual me provocou uma sensação de vertigem.

Os que viram a obra ou a leram parecem ter chegado a um acordo tácito para definir a paisagem (a atmosfera) como impenetrável, enigmática ou inclusive como um hieróglifo apavorante, na verdade descrevi tão somente a realidade geográfica de minha pátria sem esquecer, naturalmente, as ameaças escondidas.

É possível que me represente, que me retrate sem mostrar a face, que fascinado pelo Quixote solitário e a mulher me deixe levar por, como disse Dante, l’amore che muove il sole et Valtre stelle (sem esquecer meu suspeito entusiasmo pelas matemáticas hipermodernas)

A terra que toco e que apalpo ou que sinto saudades é o maestro mais genial, e quando trabalho sobre ela (sobre as quimeras que surgem de uma paisagem tão íntima como quase esquecida) medito sobre a mais minuciosa de minhas secretas estruturas espirituais. Reflito sobre o essencial, então.

Fernando Arrabal

28 de maio de 1957

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