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terça-feira, 18 de maio de 2010

Uma Festa Suntuosa

Fernando Arrabal definiu claramente suas intenções e sua concepção de teatro. Ele não escreve peças com teses; ele não passa uma mensagem: “Eu não tenho nenhuma teoria sobre o teatro.” Escrever é, para ele, uma aventura sempre misteriosa, “não como o fruto do saber e da experiência”. Por outro lado, em resposta àqueles que vêem nele um intelectual desejoso de mistificar e provocar o público, ele declara: “ Eu não faço mistificações, eu não faço provocação... Eu não inventei nada, eu não sou um marciano. O que eu escrevo, já foi escrito; eu proponho variantes.”
Para ele o teatro é uma festa suntuosa, uma cerimônia ritual, que mistura os elementos os mais opostos: “A tragédia e o guignol, a poesia e a vulgaridade, a comédia e o melodrama, o amor e o erotismo, o happening e a teoria dos conjuntos, o mau-gosto e o refinamento estético, o sacrilégio e o sagrado, a morte e a exaltação da vida, o sórdido e o sublime se inserem naturalmente nessa festa, nessa cerimônia pânica.”
O teatro de Arrabal exprime “em todos os desvios de sua caminhada, o caos, a confusão da vida” Isso não significa que a estrutura de suas pecas esteja entregue ao acaso, pelo contrário. Grande enxadrista, Arrabal é partidário de uma construção bem elaborada: “O espetáculo deve ser regido por uma idéia teatral rigorosa. Atualmente, para nossa sorte, a matemática moderna nos permite,  com maestria, fazer da peça mais sutil a mais complexa. Portanto, sob uma aparente desordem, é indispensável que a encenação seja um modelo de precisão. Quanto mais o espetáculo se revela exaltante (até a conivência ou provocação) e fascinante (até o ultraje ou o sublime), mais a peça e a encenação exigem minúcia.”  E Arrabal conclui: “O teatro que elaboramos agora, nem moderno, nem de vanguarda, nem novo, nem absurdo, aspira somente ser infinitamente livre e melhor. O teatro em todo seu esplendor é o espelho mais rico de imagens sobre o qual pode se refletir a arte de hoje; ele é também prolongação e sublimação de todas as artes.”

Paul Surer

Esse artigo foi extraído da obra “Cinqüenta anos de teatro” que Paul Surer apresentou à Sociedade de Edição de Ensino Superior, 5, place de La Sorbonne, Paris.

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